terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Fome de fome e de coragem

                Ele era um artista da fome. Jejuar era sua arte, passar fome o seu espetáculo. Jejuava menos por prazer e mais por não encontrar o alimento que o saciara.

                Qual sua fome? A dele, a minha, a nossa? Quais são esses alimentos que procuramos e não encontramos? Qual é a fome necessária para viver?

                Em tempo de fartura de possibilidades é fácil defender a alimentação, de preferência algum junk food produzido em massa. Difícil mesmo é reivindicar, em igual dignidade e estatura, a fome, esta ceifadora errante que caminha de braços dados com a morte. Qual sua fome? A dele, a minha, a nossa?

                A minha! Tenho vontade de caminhar pelos becos lamacentos, redemoinhar com os ventos e de não ir por ali. Tenho fome, tenho vontade, mas será que tenho coragem? Será que tenho coragem de assumir minha fome? Será que tenho coragem de questionar os alimentos que me preenchem, mas não me saciam? Será que tenho coragem de lutar pela fracassada vida do faminto?

                Passar e saciar fomes exige antes de tudo coragem, postura muito rara em tempos que valorizam, acima de tudo, receitas de vida pré-prontas e consumidas de forma requentadas. A história só se repete como farsa, vidas só se repetem como farsa, sonhos congelados e requentados só se repetem como farsa. Não, não quero sonhos que são farsa, não quero uma vida que seja um estereótipo! Mas será que tenho coragem?

                Santo Deus! Será que eu tenho coragem? Coragem de enfrentar os olhares de reprovação direcionados aos famintos? Coragem de assumir a fome e a morte em tempos que valorizam de forma desesperada e obsessiva a vida?


                A arte dele era essa santa arte de passar fome e causar desumanidades. Show de horror que conseguiu atrair atenção, alguma admiração e aplausos. Pois à fome está reservado esse lugar distante e indigno do horror. Tudo que ele queria era encontrar algum alimento que o saciasse. E você, e eu, e nós? Qual sua fome? A dele, a minha, a nossa?

Por Eduardo Rocha

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Canibal de mundo


Por: Tuanny Rosa Stival


Quando estiver com fome, coma-me pés e mãos!
Pés, engula-os! Arrote caminhos e aproveite os sais dos mares que com eles adentrei...
Mãos, chupe-as! E tire em quiromancia com a boca, a aspereza da vida e a suavidade do outro...
Mas fome, não passe!
Passar fome? Que passe... o tempo em que a fome maior é a que vem da alma! Que passe e não volte!
Que cicatrize a úlcera! 
Que jogue fora o prato, o pranto.
Que fique a colher. Que fique a boca.
A mesa está servida: sou eu, é você! Comamo-nos!
Beba da saliva da felicidade que vem do outro. Faça cesta em aceite à felicidade que vem de si.
Mas fome, não passe!
O grande desfile de almas anoréxicas é tido como belo. Adoece o que há em nós, enrola-nos na teia, nos liquefaz para alimentarmos o mundo
E sobra o corpo oco.
Antes, engula o mundo! Engula-me!

domingo, 15 de dezembro de 2013

Mãe Fome

Por: Gabriel Morais
Fome, mãe dos desejos Tu, que execrável sublima Também sentes fome De fato, de algo, e amém: De si
Fome, mãe das vontades Tu, que deserta meu crer Alimentas lacunas de almejos De aflor, de fervor, e desdém: De mim
Fome, mãe das cobiças Tu, que veste inclemência Gritas escassez e insatisfaz De amores, de dores, e além: Alguém?
Fames, filha das discórdias Imponente sob amargas heresias És minha maior fome Fome da fome De ater, de ser, de querer: Tu

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

APOLO E DIONÍSIO

Esquete escrito por Aline Gomes Alves, para o IV Sarau Mentes Livres, que aconteceu em novembro de 2010, cujo livro tema foi “Dona Flor e seus dois maridos”, de Jorge Amado.



(Sotaque baiano)

APOLO – Nasci de Zeus e Latona (Leto) e devido às minhas funções e atributos conquistei muita influência e veneração. Sou o Deus da purificação, da beleza, da perfeição, do equilíbrio e da razão.
DIONÍSIOMuito chamado de Baco também, sou filho de Zeus, o Deus dos deuses e de Semele, uma linda princesa. Sou conhecido como o Deus do vinho, das festas, da alegria.
APOLOResumindo: Apolo X Dionísio (como se a conclusão fosse óbvia).
DIONÍSIODiscordo, discordo! Para quê tanta rivalidade desnecessária? Sugiro uma melhor combinação, mais aprazível: Apolo E Dionísio. Que tal? Uma parceria perfeita! Não há oposição sem complementação.
APOLO(Com expressão de estranhamento, como se tivesse escutado algo absurdo) Han? Como pode pensar assim? Uma parceria dessas jamais daria certo com personalidades tão diferentes como as nossas. Ai, me poupe desses seus devaneios! Basta usar a cabeça para logo perceber que isso seria a maior furada.
DIONÍSIO(em tom de reclamação) Tststs. Desculpe lhe dizer, mas Apolo, tudo isso não passa de uma louca obsessão de ser fiel e estável com essa personalidade que você decidiu “vestir”. Uma infeliz e falsa tentativa de estar sempre de acordo consigo mesmo.
APOLO – (Em estado de cólera) O que falas, maldito? Você sabe muito bem como eu sou. Todo mundo sabe. Agora não venha você desestruturar minha imagem com toda essa balela!
DIONÍSIO – (Surpeso) Mas Apolo, meu amigo, o que é isso? Para quê tanta grosseria e descompostura? Me surpreende, logo você, o rei da sensatez e do equilíbrio. Vejo que, diante desse seu comportamento inesperado, acertei em cheio na minha análise. Mas pelo visto, trata-se de um assunto difícil pra você, nem um pouco bem-vindo. Possui algum trauma, bloqueio? (mão no queixo, a pensar) Acho que precisamos resolver isso.
APOLO – (um pouco mais calmo) Como podes tentar me convencer de algo com todo esse seu papo manjado? Sem qualquer razão nem fundamento.
DIONÍSIO – Razão? Fundamento? Então é isso que queres? Não é de se estranhar! Pois então... vamos utilizar a lógica do raciocínio quanto à nossa perfeita parceria e, digo até mesmo necessária.
APOLO – (Irritado) Não precisas de mim e eu tampouco de ti! Para que insiste em desejar tal loucura?
DIONÍSIO – Calma, meu caro, me escute. Basta ser um pouco “racional” (fazendo sinal de aspas com os dedos) para compreender a minha brilhante teoria acerca de nós dois. É a fórmula certa!
APOLO – Então desembucha logo com isso! Seja breve e claro, e, por favor, use o mínimo de coerência e fundamento nessa sua “teoria” (tom de curtição, sem botar muita fé)
DIONÍSIO – É simples. Basta perceber as diferenças existentes entre as nossas características não acarretam em nenhum empecilho para nossa união, pelo contrário, isso, na verdade, enriquecerá a nossa relação e nos complementará das mais diversas formas e, consequentemente, como não poderia deixar de ser, desenvolverá o meu lado Apolo, meio tímido, e o seu lado Dionísio, super tímido.
APOLO – (Faz menção de dizer algo. Abre a boca e levanta o dedo, com um tom de discordância. Respira fundo e continua a escutar).
DIONÍSIO – Pois então... Não vês os imensos benefícios e agrados dessa nossa união? Cá pra nós, ninguém consegue sustentar esse seu lado puro e santo a vida toda. E confesso que as vezes me canso desses meus inúmeros excessos e regalias.
APOLO – Ok, confesso que a sua teoria tem um certo sentido. E vejo que há, de fato, suas conveniências nessa nossa parceria.
DIONÍSIO – Conveniência? Pelo amor de todos os deuses, não enfraqueça a perfeição da nossa parceria com esse termo chulo e sem graça. Prazer! Isso sim! Não há parceria com mais agrados e satisfação que a nossa.
APOLO – Prazer?
DIONÍSIO – Sim, prazer! E falando nisso, já se passa do momento de selar o nosso digno pacto de união, da forma mais honrosa e prazerosa que há. E isso, todo deus que se preze, creio que também os humanos, sabe muito bem como se procede. Não é mesmo, Apolo?
APOLO – Claro que sei! Mas tenho os meus medos e receios. Não sei se estou preparado.
DIONÍSIO – Deixa disso. A partir de agora, com essa nossa união, tudo há de ser superado.
APOLO – Sim, há de ser! Concentremo-nos. Já se é hora de selar esse divino pacto com todo o seu devido ritual.
DIONÍSIO – Bem, então iniciemos. Esse pacto, que nos é de grande importância, envolve todos os sentidos, que se aguçam e se sensibilizam na medida em que nos envolvemos e que, portanto, são naturalmente exercitados nesse ritual.
APOLO – O tato. (leva e passa a mão devagar dos ombros até as mãos de Dionísio)
DIONÍSIO – A visão. (encara Apolo por um minuto)
APOLO – O olfato. (inspira o cheiro do pulso de Dionísio)
DIONÍSIO – A audição. (coloca o ouvido no coração de Apolo)
APOLO E DIONÍSIO – E o paladar.

Com as mãos dadas (apenas um lado) e cada um com uma taça, viram o rosto e tomam um gole de vinho tinto (de forma concentrada e respeitosa), em seguida viram-se, no mesmo instante e selam o pacto (com um beijo que não deve ser nem rápido e nem devagar). Em seguida, abrem os olhos, levam as mãos à boca e encaram um ao outro por um tempo, com expressão neutra.


APOLO – Já sinto algo. Meu corpo todo está a formigar, e quente como um vulcão.
DIONÍSIO – Eu também estou com uma sensação diferente, como se houvesse um líquido suave e refrescante a percorrer meu corpo. São os efeitos físicos que são imediatos. Os efeitos da alma hão de se desenvolver com o tempo, ao longo da nossa relação.
APOLO – E o melhor, não sinto medo, pelo contrário, estou a gostar de tudo isso. Apesar de diferente e um pouco desconhecido para mim, parece que está tudo se encaixando naturalmente. Entendes o que eu estou a falar?
DIONÍSIO – Sim, sim. Disse muito bem. A nossa parceria consiste numa relação harmônica, como uma balança em perfeito equilíbrio.
APOLO – Como o céu e a terra, a água e o fogo, a chave e o cadeado.
DIONÍSIO – Sim, sim. Agora percebes o que eu estava a falar? Veja em que nenhum momento houve oposição, pelo contrário, estão todos sempre a se complementar.
APOLO – Sim, estou a enteder. Enfim, como a razão e o coração.
DIONÍSIO – Sim, sempre juntos.
APOLO – É... até que estamos nos entendendo.
DIONÍSIO – Sim, sim. Não lhe disse? Mas sabe, Apolo, tenho uma preocupação constante a perturbar a minha mente.
APOLO – O que? Algo sobre mim, algo que fiz?
DIONÍSIO – Não. Não se trata de você e sim dos humanos.
APOLO – Humanos? Mas estes são cheios de problemas.
DIONÍSIO – Sim, eu sei. Mas um especificamente me incomoda, e muito.
APOLO – Qual? Diga-me!
DIONÍSIO – O fato de viverem constantemente reprimidos, contidos em nome da boa imagem, do status, da postura impecável, quando na verdade não passa tudo de um grande teatro. Na frente do público apresenta-se exatamente da forma como se exige, como se espera, pois sabem que estão diante de uma plateia em constante crítica e avaliação.
APOLO – Mas, Dionísio, o ser humano é fraco, não aguenta pressões e nem críticas. A mudança é um dos seus maiores medos, por isso prezam tanto pela vida certa e estável, mesmo que seja pacata e sem graça. Não vês como o ser humano é uma criatura facilmente adaptável? Mesmo às situações mais difíceis e absurdas, como à violência, poluição, fome, desabrigo, vícios, corrupção, desigualdades. Enfim, sujeitam-se facilmente.
DIONÍSIO – Não, não Apolo. Você está analisando apenas o que eles lhe apresentam no “palco”, vamos assim dizer. Mas por trás das “cortinas”, já pensou tudo o que se passa por lá? Os conflitos, a tensão, o desequilíbrio, a troca constante e indecisa de “personagens”, a frustração, a dúvida, as verdadeiras vontades, os desejos, os pensamentos e sentimentos contidos. É lá que o ser humano se revela, onde não há ninguém para julgá-lo.
APOLO – Mas no fim, sujeitam-se às exigências sociais, à lei do mais forte.
DIONÍSIO – Sim, tenho consciência que a maioria cede a isso, por meras questões de aparência e status. Não entendo como podem se sujeitar de tal forma a abrir mão das suas reais vontades e até mesmo princípios. Mas há os distintos, e são neles que temos que confiar. São eles que sustentam as nossas esperanças e nos dão forças, pois acima das próprias leis, sejam elas humanas ou dividas, eles baseiam-se no preceito essencial de justiça.
APOLO – Sim, reconheço que existem tais. Refiro-me agora a alguns mais esclarecidos. Tratam-se de criaturas humanas distintas, e merecedoras de grande admiração. Cito aqui, como não poderia deixar de ser, o sábado Warat, que defende o amor como o fundamento maior de todas as relações humanas éticas e justas. Gerivaldo Neiva, outro com importante, inteligente e sábia atuação, um juiz baiano, que de uma forma simpliesta e, ao mesmo tempo, especial, utiliza o Direito e as leis como meio de justiça, sem maiores dificuldades e complicações, tornando o mundo jurídico acessível a todos, sem qualquer tipo de distinção, apesar das diferenças inevitáveis existentes entre os próprios humanos.
DIONÍSIO – Sim, claro... Trata-se do Direito aplicável,, da igualdade material, da justiça de fato. É o que lhe digo, as diferenças existem, mas não para serem ignoradas, e sim compreendidas e respeitadas.
APOLO – Não entendo como certos grupos, certas pessoas inseridas em determinadas condições são simplesmente ignoradas, como se não existissem. São várias as vítimas: mulheres, negros, deficientes físicos e mentais, homossexuais, pobres e prostitutas. Infelizmente, percebe-se tudo quanto é tipo de discriminação, nos mais distintos locais e épocas. Ah, se eu fosse um Warat, um Gerivaldo Neiva, um juiz, um acadêmico, um simples cidadão que seja...
DIONÍSIO – Realmente, há temas bastante polêmicos que por falta de um real interesse ou de suficiente conhecimento e comoção social são completamente ignorados e que, portanto, exigem-se rápidas e efetivas mudanças na forma de como lidar e aplicar o Direito perante as verdadeiras necessidades hoje pertinentes, como o abordo, a homossexualidade, as desigualdades sociais, as doenças, as drogas, a prostituição, enfim são vários. Mas, Apolo, creio que nada possamos fazer. Essa parte é de competência deles (apontando): humanos. Eles estão bem mais acostumados com esse mundo, com os problemas e as dificuldades, logo são os que mais sofrem e desejam mudanças. Basta perguntar para eles.
APOLO – Sim, é verdade. Vamos, manifestem-se! Quero ouvir dos próprios as necessidades, as críticas, as aspirações.
DIONÍSIO – Não se acanhem! Basta nos dizer brevemente o que tanto lhes incomodam, as suas vontades de mudanças e a pretendida ação diante dos fatos e das desejadas melhorias. Começamos com este(a). (indicando alguém)

(Dinâmica. Participação da plateia)

APOLO – É, acho que já estamos provocando uma pequena mudança.
DIONÍSIO – Creio que entenderam rapidamente a intenção de nossa mensagem. Há a necessidade de uma sensibilização do Direito, não estamos exigindo leis perfeitas, mas humanas, muito menos leis eternas, mas leis para a realidade do agora.
APOLO – Sim, tranquilize-se. São eles conscientes dessa necessidade, afinal de contas, são criaturas desenvolvidas e dotadas de capacidade racional, sensíveis aos sentimentos, aos sonhos, vontades, expectativas – sem se limitarem ao próprio ego, mas solidários com a condição do outro, assim como dos demais iguais. E é exatamente essa sensibilidade prática aliada à necessária razão, responsável pelos grandes atos, pelas melhorias sociais e, ao mesmo tempo, pela satisfação e o equilíbrio individual.
DIONÍSIO – Sim, aí que está a beleza humana: no poder de utilizar todas as diversidades a seu favor, desde ás situações mais pessoais, até as circunstâncias grandiosas.
APOLO – vejo que fomos nós que acabamos aprendendo algo com os humanos, nessa nossa tentativa de desenvolver e conciliar todos os nossos lados e personagens, a fim de atender tanto as nossas necessidades intelectuais quanto as necessidades sentimentais.
DIONÍSIO – Acho que os invejo por isso.
APOLO – Que nada, não é preciso! A nossa parceria foi muito bem-vinda exatamente por esse motivo.
DIONÍSIO – Claro! Vamos então comemorar com um belo brinde esses grandes e significativos acontecimentos: a nossa parceria e, metaforicamente dizendo, a devida manifestação do Apolo e do Dionísio na essência e no comportamento desses humanos que estão a nos contemplar e que tanto nos inspiram.
APOLO – Sim, a ocasião exige! Vamos selar o nosso pacto, lembrando do necessário equilíbrio da entre a razão e a paixão em todos os atos da nossa vida, desde os mais formais e grandiosos, até os mais simples e cotidianos.
DIONÍSIO – Iniciaremos os brindes, cada qual considerando um motivo que lhe é de grande importância e, por fim, concluiremos o nosso pacto brindando por um motivo comum: a Casa Warat – a responsável por nos unir aqui neste momento e nos tornar conscientes de uma mesma causa: a sensibilização do Direito e, é claro, primeiramente de nós mesmos. Então, tudo já dito, dedico o meu brinde especialmente ao amor, considerando-se todos os seus tipos e níveis.
APOLO – (Faz seu brinde)

(Segue a roda e cada qual faz um brinde individual)

DIONÍSIO – E, por fim, brindemos conjuntamente à Casa Warat.


(Em seguida, Apolo e Dionísio fazem um brinde à parceria realizada, se desfazem das taças e, com as mãos dadas, inclinam-se em tom de despedida e agradecimento, aplaudindo logo depois todo o grupo ali presente).

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A Besta Quadrada

Texto literário produzido por Pedro Gustavo Sousa Lopes, para o terceiro Sarau Mentes Livres, que aconteceu em junho de 2010. O livro tema era "Bestiário", de Julio Cortázar. O desenho também foi feito por ele, especialmente para acompanhar o texto.


Era uma noite nublada e chuvosa, como se os céus chorassem cachoeiras inteiras que iam inundando tudo, com a ajuda ainda do rio que transbordava ocultando todos os caminhos, e por onde dirigir era uma tremenda aventura. Verdadeiras ondas quebravam sobre o Celta preto de Johnny Beast de Oliveira Pinto, carro inclusive oportuno para as condições climáticas em que se encontrava, pois quem não sabe qual o carro que avisa que vai chover?!?! Porém mais tarde, nessa mesma noite, Johnny Beast ia descobrir que os céus realmente choravam.
Depois de sair do hospital em que trabalhava, Johnny gostava de passar em seu açougue na Praça do Coreto para pegar carnes para a janta e o almoço do dia seguinte. “Empório da Carne Vila Boa, aqui não só a carne é de primeira, mas também o cliente” – era o slogan do açougue, o melhor da pequena cidade vila boense, inclusive.
Johnny sempre levava coração para seus filhos, eles adoravam. Certa vez Paulinho, o filho mais velho, que tinha apenas 9 anos, perguntou para o pai por que ele não trazia coração de gente e não de galinha para a janta, pois de gente deveria ser maior, e como ele gostava tanto de coração. Johnny o mirou por alguns segundos procurando uma resposta que não fosse em forma de bronca, e começou a explicar para ele que para isso deveria matar pessoas e que aquilo além de errado era canibalismo, e o pior de tudo, a lei proibia. Paulinho retrucou dizendo que o pai poderia ir ao cemitério e pedir alguns para o coveiro, e o pai para tentar acabar com a conversa disse que na verdade coração de gente tinha um gosto muito ruim. Paulinho então volta com um “então o senhor já provou?”. E o pai já irritado e sem resposta, o manda dormir e começar a comer mais vegetais.
Ao tentar sair do açougue Johnny percebe que a chuva piorara e havia estacionado seu carro um pouco longe. Então ele se lembra de uma capa preta de chuva que tinha de reserva no açougue, correndo para os fundos do estabelecimento para procurá-la. Logo ao entrar no cômodo ele se depara com a capa pendurada em um gancho de carne. Ele vai em direção a capa e acaba escorregando em um objeto de metal, dando de cara no chão. Ao levantar o tronco, sente uma forte dor na testa e solta um “CARAI DE ASA”. Olha para o chão a procura do objeto que lhe causara o acidente e encontra um saca-rolha, desses todo incrementado que encontramos nas lojas de 1,99 hoje em dia, que vem com abridor de garrafa e faca juntos, quase um canivete suíço. Ele pega o saca-rolha, lembra que falta um desses em sua casa, o coloca no bolso, se levanta, pega a capa e corre para o carro, sentido muito sua testa.
Mas antes de fato ir para o carro, Johnny percebe dois policiais fardados, bebendo no bar ao lado. Os dois, já bem “felizes”, não percebem que o rádio da viatura, estacionada na frente do bar, chama-os loucamente, repetindo inúmeras vezes a mesma frase:
_ Viatura 171, viatura 171, emergência no bairro João Francisco.
Johnny tenta avisá-los da chamada, mas os dois ignoram seu aviso e continuam bebendo. Johnny percebe duas garrafas de Rustoff embaixo da mesa, e pensa consigo: “tomara que eu e minha família nunca precisemos deles, e tomara ainda que abra um buraco no estômago deles bebendo isso”. Finalmente então ele vai para seu carro, o adentra e vai embora, ainda sentindo a dor na testa e pensando na cena que acabara de ver.
Depois de continuar sua aventura pelas ruas alagadas da cidade, Johnny finalmente chega em casa. Era uma casa nova, moderna, grande, dois andares, 4 suítes, garagem para dois carros e piscina para ser mais exato. Johnny a financiara pela CAIXA, pois é um “puta negócio”, e pagava leves prestações de 4.500 reais por mês. Por isso tinha apenas um Celta, e sua mulher uma Variant. Ao chegar procurou o controle do portão pelo carro, mas não o achava. Resolveu então ligar para esposa abrir por dentro, mas ela não atendia, o que é normal entre as mulheres, pensou, pois mulher parece que tem celular para deixar na bolsa. Pensou em ligar para o telefone residencial, mas lembrou que não havia pagado a conta – consequência do financiamento novamente - e nem receber ligação o telefone estava recebendo. Decidiu então descer na chuva e abrir o portão manualmente, mas ao puxar o freio de mão sentiu o controle do portão preso a ele. Respirou então aliviado por não ter de descer naquela chuva novamente. Aquela seria sua última respirada de alívio.
Estacionou o Celta e estranhou que a Variante de sua mulher não estava ali. Onde diabos essa mulher foi com essa chuva há essa hora? – pensou. Desceu do carro e se dirigiu a porta da casa. Estava entreaberta. Saiu e ainda deixou a casa aberta! Aném! – pensou novamente. Encostou a palma da mão na porta para empurrar e, quando ia efetuar a ação, seu cachorro latiu, um bacê preto chamado Dog – Johnny não era um cara muito criativo. Logo atrás dele vinha seu gato, o Cat – realmente ele não era criativo. Johnny sorriu para os dois, os acariciou e voltou novamente para a porta, mas Dog não parava de latir e seus latidos doíam lá na mente dele devido à dor que sentia na testa. Johnny então resolveu ir colocar Dog na coleira, e o levou para a área dos fundos através de um portãozinho que ligava a garagem a área. Para chegar à área ele devia atravessar um longo corredor que se estendia por toda a lateral da casa, onde havia duas janelas: uma que dava para o quarto de sua filha, Chrys Laura, de apenas 7 anos e a outra para a cozinha. Ao passar pelas janelas Johnny olhava para ver se via alguém, mas não achou nada. Pensou que sua mulher além de sair naquela chuva, ainda levara os coitados dos filhos.
Ao chegar à área Johnny logo prendeu Dog e lhe colocou uma focinheira para que ficasse calado. Porém antes de deixar o cachorro Johnny deu uma olhada nas suas ferramentas que ficavam penduradas na parede da área e percebeu que ali não estava seu facão. Na semana anterior ele havia brigado com sua mulher que tinha pegado o facão para cortar uma árvore que a estava atrapalhando a tirar o carro da garagem, e como sabemos uma árvore bem que pode atrapalhar uma mulher a tirar o carro da garagem. Pensou que ela teria pegado de novo e já ia em direção a casa pensando na bronca que ia dar novamente. Tentou entrar pelos fundos, mas a porta estava trancada, então voltou pelo longo corredor e chegou à garagem, logo abrindo a porta da frente e entrando na sala gritando o nome da esposa:
_ Dorotééééééíiaaaaa!!!!
_ Dorotéia sua vadia, você pegou meu facão de novo?!?!?
Não veio nenhuma resposta, então lembrou que o carro da esposa não estava lá e que provavelmente tinha saído. Acalmou-se e foi para seu quarto.
Ao chegar ao quarto foi direto para o banheiro. Tirou a capa preta toda molhada e a deixou no chão mesmo. Foi em direção ao espelho para ver o estrago em sua testa e se assustou com tamanho galo. Parecia que havia outra cabeça saindo da sua. Abriu o armarinho e pegou um Gelou spray. Leu a embalagem para ver a composição do produto – mania de médico e farmacêutico – e viu ainda que o Gelou além de dores e inchaço, acabava até com torcicolo. Ficou realmente impressionado com aquilo. Largou o tubo de Gelou em cima da pia e foi em direção ao box do chuveiro. O box era fosco e quando o viu percebeu que tinha uma sombra, como se alguém estivesse ali do outro lado. Bateu no box, mas ninguém respondeu, perguntou se havia alguém ali mas ninguém respondeu de novo. Resolveu então abri-lo e, com um gesto suspeito, meteu a mão no corrimão do box rapidamente e do mesmo modo o puxou para o lado, revelando ali uma bóia de jacaré, que tinha comprado para o filho para irem passear na próxima semana no Hot Park, em Caldas Novas. Tirou a bóia dali, deixando-a no banheiro mesmo, e tomou um relaxante banho quente.
Ao terminar o banho, Johnny colocou o braço para fora do box para pegar uma toalha. Passou a mão por toda a parede até perceber que ali não tinha uma toalha, nem em lugar algum do banheiro. Como Johnny odiava aquela situação! Saiu pelado, molhado e com frio do banheiro, correndo em direção ao guarda roupa a procura de uma toalha. O guarda roupa era enorme, oito portas, feito do mais resistente cedro, de uma cor avermelhada muito brilhante. Levou a mão à maçaneta e puxou, mas a porta estava emperrada. Colocou mais força na puxada, mas não adiantou. Usou agora as duas mãos e puxou já pensando que quebraria a porta e mandaria arrumar no dia seguinte. A porta destravou e foi abrindo devagar, mas Johnny, devido à força com que puxou e a água de seu corpo que havia molhado todo o chão, escorregou, caindo e batendo com a cabeça numa cômoda. Ali mesmo no chão, ele levou a mão a cabeça sentindo mais um galo, e quando conseguiu voltar a si e olhar para o guarda roupa, Johnny sentiu um cala frio que congelou sua espinha de cima a baixo, vendo à imagem que o atormentaria pelo resto de sua vida, a imagem de sua mulher dependurada pelo pescoço dentro do guarda roupa, sangrando pela boca, pelas narinas, pelo ouvido e pelos olhos, totalmente nua e com várias feridas pelo corpo, como se tivesse sido esfaqueada, porém em nenhum lugar vital, mostrando que antes de morrer devia ter sido cruelmente torturada.
Johnny, ainda no chão, foi levando seu corpo para trás, sem saber o que fazer, até um ponto em que sentiu na sua mão esquerda um líquido viscoso, quente. Trouxe sua mão até a frente de seu rosto mostrando que aquele líquido na verdade era sangue, que estava saindo da cômoda na qual batera a cabeça. Foi em direção a uma de suas gavetas, temendo o pior, e ao abrir a gaveta o pior aconteceu: dentro da gaveta estava o corpo esquartejado de Paulinho, junto com seu facão. Mal dava para identificar o corpo. Nesse momento Johnny estava tão branco como cocaína, e em poucos segundos entrou em choque, perdendo os sentidos lentamente e desmaiando logo em seguida.
Johnny acordou no hospital em que trabalhava, sem saber exatamente onde estava e um tanto dopado. Tentou levantar, estava meio cambaleante e acabou caindo da cama. Um colega médico que ali estava correu para socorrê-lo no chão, mas Johnny o empurrou. Ele se lembrava de tudo, tentava não acreditar, mas aquela imagem não saia de sua mente. Saiu correndo do hospital, tirando a força todos que estavam no seu caminho. A tormenta era tanta que nem o grau causado pelos remédios conseguia segurá-lo. Correu e correu até chegar a sua casa. Ali estava a polícia, interditando a casa. Ele entrou desesperado na casa, em meio aos policiais, esbarrando em todos e em tudo. Foi direito para seu quarto procurando ali novamente os corpos de sua mulher e seu filho. Tinha esperança ainda de achar sua filha viva, mas o que ele não sabia era que ela também tinha sido esquartejada; estava na gaveta de baixo. Ao chegar ao quarto entrou e trancou rapidamente, de modo a deixar todos os policiais de fora. Olhou o quarto, mas nada mais estava ali, apenas manchas de sangue.
Nesse momento subiu um ódio inexplicável pelo seu corpo, uma raiva demoníaca. Nesse momento surgiu não o Batman, não o Wolverine, mas A BESTA. A partir dali não existiria mais o Johnny Beast de Oliveira Pinto, existiria apenas A BESTA, em busca de vingança.
A Besta saiu do quarto pela janela e sumiu. As pessoas só a veriam pelo noticiário, a não ser claro suas vítimas.
Após alguns dias a polícia conseguiu prender o responsável pelo crime contra a família do antigo Johnny. Mas isso só serviu para juntar todas as vítimas da Besta em um só local. Digo todas as vítimas, pois como vocês verão, não era apenas uma. A Besta julgou responsável pela morte da família de Johnny tanto o assassino como os policiais que bebiam no bar e não cumpriam com o dever. Quem sabe se eles estivessem alerta não poderiam impedir aquele crime.
A Besta Quadrada planejou tudo nos mínimos detalhes. Esperou um dia onde apenas os dois policiais estariam de plantão na delegacia, já que era uma cidade pequena e não havia muitos agentes ali, e como um fantasma que surge do além a Besta apareceu bem na frente dos dois policiais. Aqueles dois mal viram o que os atingiram. De um lado o facão, ainda sujo de sangue dos filhos de Johnny, atravessando o coração de Rezende, e do outro lado um saca-rolha, bem no meio da testa de Fábio. Depois a Besta Quadrada pegou uma garrafa de Rustoff, jogou toda a vodka sobre os corpos sem vida dos dois policiais e ateou fogo.
Agora só faltava mais um, e este estava encurralado. Era uma vítima fácil, mas que iria sofrer muito. Mais uma vez a Besta apareceu do nada, e numa facãozada, como se fosse uma espada jedi, arrancou o cadeado que separava um assassino do outro. Os dois se entreolharam, como se um entendesse o que o outro pensava, e num golpe repentino a Besta perfurou o olho esquerdo do assassino com o saca-rolha, desferindo depois outro golpe, agora com o facão, que rasgou levemente o pescoço do assassino, de modo a não matá-lo ainda. O assassino caiu no chão agonizando de dor e sangrando como uma galinha degolada. A Besta ainda perfurou várias partes de seu corpo com a lâmina que havia no saca-rolha, e a cada perfurada, o assassino se retorcia, mas não morria. Quase terminando a sua vingança, a Besta tirou a máscara, olhou novamente nos olhos do assassino, chegou bem perto do seu ouvido e perguntou:
_ Por quê?
O assassino quase sem vida murmurou:
_ Por vingança!
Então o assassino tirou do bolso um papel amassado, entregando-o a Besta e logo após perdendo o resto de vida que ainda existia. A Besta vendo aquilo enfiou o facão no coração do assassino e o arrancou, dando então uma mordida no órgão ainda batendo. Depois disso ela pegou o papel amassado, o abriu, ficou alguns segundos tentando entender o que era aquilo e, de repente, um choque. Estava de volta Johnny Beast, apavorado, como se estivesse vendo novamente os corpos de sua família. Então ele percebeu que na verdade ele realmente era uma besta, uma BESTA QUADRADA, posteriormente enfiando o saca-rolha na sua própria cabeça.
O papel caiu aberto no chão, revelando o que na verdade era uma foto, a foto de uma garotinha, filha do assassino, morta há 1 ano por erro médico.






Moral da História: “A vingança nunca é plena, mata a alma e a envenena”.





Pedro Gustavo Sousa Lopes

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Canto torto à vida

Texto de André Pereli (Juazeiro-BA)

Corra para o trabalho, você está atrasado! Você deve produzir ou então está acabado! 
Saia para o almoço, mas não demore, a sociedade precisa do seu último suspiro e não do seu ultimo gole; gole na cachaça que afoga seus traumas!
Volte para casa no fim do dia, sinta-se privilegiado, você está empregado; sinta-se enojado você é mais um fantoche comprado e quem te compra é o medo; o medo que plantam em você para que você não fuja à regra.
A todo momento te controlam pelo medo e pelas verdades... Vou logo dizendo, verdades são mentiras e o seu único medo deve ser o de não amar!

Esqueça os compromissos que não te dão prazer, pois são todos vãos, o tempo nada tem a ver com a vida.
A morte não deve ser temida, é apenas mais uma das suas despedidas; 

VIVA, VIVA!

Quando o vento tocar o seu corpo com toda sua calmaria, dance, se balance... 
Nesse momento você é livre. Livre e pode dançar, pode dançar e pode viver... Crie sua liberdade, não aceite aquela que criaram por você.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Todo mundo nasce artista

Todo mundo nasce artista
Aíla Magalhães



Todo mundo nasce artista
Depois vem a repressão
Não faz arte, diz a tia
Vê se deixa de invenção

Todo mundo nasce artista
Depois vem a castração
E o artista que há em nós?
Vai do quarto pro porão

Todo mundo nasce artista
Depois vem a podação
E a vida fica triste,
Sem arte, sem emoção

Todo mundo nasce artista
Depois vem a piração
Alcoolismo, suicído
Doença mental, depressão

E essa doença tem cura?
Existe uma salvação!
Faça arte! Faça arte!
Mesmo que sua mãe diga que não

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Desabafo, ou, Poética de mais pro direito



por Jordana Ribeiro

publicado originalmente em


Sei que há a possibilidade (necessária) de unir as duas coisas – já vi com os meus próprios olhos! - mas guardo um bloqueio particular com o juridiquês. É bem assim: só de ler lei já esqueço de rima, puf! Se foram...



Cercaram minha rima, meus sonhos e minha criatividade. Arrancaram meus trapos e chamaram um alfaiate para me vestir.
Me colocaram sutien, alisaram meu cabelo e pior, cortaram meus dreads.
Proibiram meus pés descalços e todas as mentes viajantes.

Disseram que bunda com o formato da cadeira é última moda, e que eu deveria aderir logo (pra não perder as últimas cadeiras em promoção no cursinho da esquina).
Me ensinaram que a justiça é um termo “que depende”.
Que depende de quem o judiciário é mais amigo.

Mostraram-me que a academia poderia ser um refúgio quando eu quisesse fugir um pouco dos normativismos.
Só não me contaram que eu só poderia pensar conforme correntes teóricas preexistentes.

terça-feira, 30 de abril de 2013

CABARÉ INTELECTUAL

Venham participar do Grupo de Estudos da Casa Warat Goiás.
Segue o cronograma:

Obra: WARAT, Luis Alberto. Introdução geral ao Direito: interpretação da lei temas para uma reformulação. Vol. 1. 
Disponível na xerox e na biblioteca do Campus Goiás.
Horário:17:30h
Local: Campus UFG- Cidade de Goiás.

Calendário


Dia: 26/04
Cap. 3: Redefinição das palavras da lei;

Dia: 03/05
Cap.4: Formalismo, realismo e interpretação da lei;

Dia: 10/05
Cap. 5:Os métodos de interpretação da lei como recurso ideológico e político;

Dia:17/05
Cap.6:Argumentação jurídica e suas críticas;

Dia:24/05
Cap.7:Mito, ideologia e convencimento;

Dia:31/05
Cap.8:A condição retórica de sentido.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Sarau Mentes Livres: Viagem Solitária


Venham participar do Sarau Mentes Livres, com a temática transsexualidade e construção dos corpos!


*Livro tema: Viagem Solitária - a história de um transsexual 30 anos depois - João W. Nery
*Exibição e debate do documentário "Bombadeira - a dor da beleza" com o diretor Luis Carlos Alencar 

Às 19h, no Espaço Criativo!