Ele
era um artista da fome. Jejuar era sua arte, passar fome o seu espetáculo.
Jejuava menos por prazer e mais por não encontrar o alimento que o saciara.
Qual
sua fome? A dele, a minha, a nossa? Quais são esses alimentos que procuramos e
não encontramos? Qual é a fome necessária para viver?
Em
tempo de fartura de possibilidades é fácil defender a alimentação, de
preferência algum junk food produzido em massa. Difícil mesmo é reivindicar, em
igual dignidade e estatura, a fome, esta ceifadora errante que caminha de
braços dados com a morte. Qual sua fome? A dele, a minha, a nossa?

Passar
e saciar fomes exige antes de tudo coragem, postura muito rara em tempos que
valorizam, acima de tudo, receitas de vida pré-prontas e consumidas de forma
requentadas. A história só se repete como farsa, vidas só se repetem como
farsa, sonhos congelados e requentados só se repetem como farsa. Não, não quero
sonhos que são farsa, não quero uma vida que seja um estereótipo! Mas será que
tenho coragem?
Santo
Deus! Será que eu tenho coragem? Coragem de enfrentar os olhares de reprovação
direcionados aos famintos? Coragem de assumir a fome e a morte em tempos que valorizam
de forma desesperada e obsessiva a vida?
A
arte dele era essa santa arte de passar fome e causar desumanidades. Show de
horror que conseguiu atrair atenção, alguma admiração e aplausos. Pois à fome
está reservado esse lugar distante e indigno do horror. Tudo que ele queria era
encontrar algum alimento que o saciasse. E você, e eu, e nós? Qual sua fome? A
dele, a minha, a nossa?
Por Eduardo Rocha
Lindo texto Eduardo rocha. Não conheço a Casa Warat Goiás, mas fiquei curioso... Rs Já adianto, sou bem iconoclasta.
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