segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Canibal de mundo


Por: Tuanny Rosa Stival


Quando estiver com fome, coma-me pés e mãos!
Pés, engula-os! Arrote caminhos e aproveite os sais dos mares que com eles adentrei...
Mãos, chupe-as! E tire em quiromancia com a boca, a aspereza da vida e a suavidade do outro...
Mas fome, não passe!
Passar fome? Que passe... o tempo em que a fome maior é a que vem da alma! Que passe e não volte!
Que cicatrize a úlcera! 
Que jogue fora o prato, o pranto.
Que fique a colher. Que fique a boca.
A mesa está servida: sou eu, é você! Comamo-nos!
Beba da saliva da felicidade que vem do outro. Faça cesta em aceite à felicidade que vem de si.
Mas fome, não passe!
O grande desfile de almas anoréxicas é tido como belo. Adoece o que há em nós, enrola-nos na teia, nos liquefaz para alimentarmos o mundo
E sobra o corpo oco.
Antes, engula o mundo! Engula-me!

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