sábado, 19 de novembro de 2011

Sobre os dias em que nevou em Goiás


Impressões do III Encontro Internacional da Casa Warat, novembro de 2011.




Dia desses os becos de Villa Bôa silenciaram suas cantorias. Eles estavam ansiosos para ver passar cantando o bloco dos insanos (todos amigos de um outro ainda mais louco, Warat). Ficaram abismados com tamanha ousadia dos waratianos, que não sabiam cantar nenhuma música. Só inventavam. Bando de loucos!


Os componentes do bloco faziam barulhos estranhos, dançavam numa chuva de poesia, falavam de amor, nudez e erotismo. Batiam tambores que, ao invés de chamar chuva, invocavam a, ainda mais absurda, presença da polícia. As pedras sensíveis, das ruas tortas, sentiram os pés descalços  deles, e contaram que, nunca antes em Goiás, alguém chorou e sorriu com os dedos, como choravam e sorriam os dedos dos pés daqueles exageradamente-a-flor-da-pele.

Quando os malucos foram embora, pegando carona num carro que descia em alta velocidade o rio congelado (pois a neve lá foi mais intensa nesses dias), a cidade ficou abandonada. Foi uma partida feliz - pois loucos não conhecem tristeza. O sol voltou a ser muito brilhante e o calor novamente beirando os 40 graus. Os becos voltaram a cantar solitários, na companhia vazia dos paralelepípedos.

Ficou a saudade...
Os sinos fazendo eco...
E a lembrança certa de que Warat também sorriu e chorou nesses dias.

Jordana Ribeiro de Ávila

2 comentários:

  1. con tanta sensibilidade continuará nevando, algumas coisas mais que neve: alegría, magía e esperanças... otimo!

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  2. Tão bom ler palavras sobre esses dias... me sinto bem. (:
    Muito lindo, Jô!

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