Por Marta Gama
Já faz muito tempo, não faz tanto tempo assim...
Lembro-me que tinha um estranho hábito de discutir com terceiros a vida de outros que nunca tinham visto...
Nessa época, todo um ritual precedia esses encontros, costumava vestir elegantes tailleurs, tinha-os de todas as cores, sempre usava altos tallones, cabelos cuidadosamente penteados e uma maquiagem opaca para disfarçar a minha então pouca idade.
Num desses dias fui encontrar com um daqueles sujeitos que apesar da sua pouca idade, já tinha aquele ar de que já sabia de tudo e se embrenhava na esquisita tarefa de decidir a vida alheia. Hoje penso que essas pessoas talvez tenham um pouco daquelas doces senhoras das novelas de Dias Gomes, sempre atentas à vida alheia, puro feitiche ou puro fuxico?
Voltando ao jovem audacioso com que naquela tarde me encontrara, chamava-me atenção a coleção de livros que se encontrava na estante de seu sério gabinete. De tanto olhar e ele já numa espécie de galanteio (muito próprio dos que exercem esse ofício), tomou um dos volumes e começou a declamar uma poesia. Agora já não me recordo o título, nem a autora, mas falava sobre a capacidade de sermos tantos, sendo apenas um só...
Nunca esqueci aquela cena e como na minha trajetória sempre errantes busquei ser tantas, sempre encantada com a vida e suas múltiplas faces. É como se o mundo a cada momento me convidasse a uma nova vida.
Hoje, contudo, não sei se buscando ser tantas, talvez não seja nenhuma
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