domingo, 22 de maio de 2011

A casa nômade do Warat: Montes Claros


Por Jordana Ávila e Nádia Pinheiro

O espírito nômade da Casa Warat esteve especialmente tocado esse mês. Um convite especial da Associação Brasileira de Ensino do Direito (ABEDI) – Minas, nos fez tomar uma van e seguir 14 horas rumo a Montes Claros/MG. O convite dizia respeito ao VIII Congresso Direito e Teoria do Estado, IV Seminário Internacional de Direitos Humanos e, em especial, ao I Congresso Regional Sudeste da ABEDI, na qual ministraríamos uma oficina sobre o Direito e a Arte, segundo a nossa experiência na Casa Warat.

Sempre entendemos a importância de discutir surrealismo jurídico e arte nos cursos de direito, mas a melhor parte desse convite foi ver o reconhecimento das nossas discussões, que fariam parte da programação de um evento fora do estado. E melhor ainda, a nossa contribuição para a discussão do ensino jurídico, que é o maior foco waratiano. Um ganho também para o grupo PET/CCG, uma vez que as atividades da Casa Warat, esse ano, se tornaram uma das frentes do Programa de Educação Tutorial do Campus cidade de Goiás.

Queríamos os quatro (Eduardo, Paulo, Nádia e Jordana) ter enchido a van em que fomos para Montes Claros. Nossa vontade era mesmo a de levar toda a Casa Warat Goiás para o espaço mágico do qual participamos, mas não foi possível. Porém, deixamos claro que toda essa experiência já foi compartilhada com o restante do grupo, que ficou contagiado com o novo gás que a oficina nos trouxe.

AH, a oficina! Começamos com um simples compartilhar de idéias waratianas, que acabaram por se tornar uma espécie de Sarau. Apesar da preparação que ocorreu anteriormente, ainda no grande Hotel Hawaí, chegamos um tanto nervosos e ansiosos para a oficina. Afinal, esta seria a segunda que ministraríamos e a primeira que aconteceria “fora de casa” - uso a expressão pelo fato de a primeira ter ocorrido no IX EGED (Encontro Goiano dos Estudantes de Direito), que aconteceu aqui mesmo na Cidade de Goiás em novembro de 2010. Porém, ao darmos início à oficina, esse nervosismo foi se transformando em tranqüilidade, à medida que o debate ia se formando e as idéias fluíam sem parar, com uma naturalidade que realmente nos surpreendeu. E aquela expectativa que tínhamos acabou sendo superada, pois a oficina tomou outro rumo, bem diferente do que qualquer um de nós poderia imaginar.

Claro que devo falar aqui que a oficina seguiu a estrutura que havíamos planejado como as falas sobre cada frente da Casa Warat Goiás, que foram explicadas por cada um dos membros, os poemas e o teatro, porém, todos esses momentos foram bastante enriquecidos com intervenções e discussões que serviram até para modificar nossas falas em diversos sentidos. Em cada intervenção novas visões eram descobertas, novos horizontes eram explorados, e assim, fomos tornando nosso encontro um grande momento de troca. Trocamos conhecimento, experiências... aprendemos e ensinamos, como ocorre nos Saraus! E esse aprendizado mútuo é o que gera tanta vontade de seguir em frente, de espalhar cada vez mais essa sementinha que vai crescendo aos poucos e atingindo lugares e pessoas inimagináveis. São em momentos como este que a Casa Warat Goiás vai se conhecendo e aprofundando em si mesma, para que assim, possa chegar perto de mais pessoas, levando a sensibilidade e usando esta para modificar vários conceitos formadores de opiniões.

Nessa oficina, especialmente, nos propusemos a nos despir do comodismo, esse freio que não nos deixa sair do lugar e procurar novos meios para melhorar a educação brasileira e a própria vida, esse peso que nos impede de levantar e tentar algo diferente. Acreditamos que poderemos um dia nos despir totalmente desse comodismo, e quando esse dia chegar, talvez todos compreenderão o significado da mudança, do novo, e se encherão de vontade, terão sede de luta e de dias melhores.

Neste espaço também apareceu um questionamento muito construtivo, que partiu do professor Edson e que nos fez parar e refletir. Questionou se tudo aquilo que estávamos construindo não ia ser um discurso que se limitaria ao espaço da oficina e do grupo de estudos, ou se realmente iríamos levar aquilo para nossa vida após a academia, em todos os aspectos, não só na área jurídica. Ao pensar nisso surge mesmo aflição, inquietação e dúvida, principalmente diante de uma sociedade que consome muito mais os comodistas do que os que não o são, porém pensamos que a Casa Warat não é um fim em si mesmo, mas é um meio para algo muito maior que só será alcançado se levarmos esse conhecimento em nossa forma de agir durante a vida.

Depois de tanto debate, troca de conhecimento e reconhecimento, voltamos renovados, com vontade de trabalhar mais e mais com esse projeto que (relembramos) o quanto a nós encanta e nos faz querer ser pessoas melhores, mais humanas e sensíveis, com vontade de ter sempre essa sensibilidade em nossas vidas e de, principalmente, transmitir isso a mais pessoas, aos poucos, pois é assim que acontece. Queremos ser, como diz Eduardo Galeano, o fogo que “arde a vida com tanta vontade que não se pode olhá-lo sem pestanejar, e quem se aproxima se incendeia.”

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