Não
tem segredo, é igual chegar em casa depois de um dia quente. Amarre o cabelo
com o primeiro lenço azul celeste que aparecer na mesa. Os mais apressados
tiram os sapatos, mas quando se começa pelo botão da calça é notável o alívio (vá
direto ao vinil, bota Glory in Box).
Alma, é coisa sensível, não gosta de ficar apertada mas adora música boa, de
balanço mole. Tirar as calças é um processo interessante, principalmente as que
apertam, tem que ter um rebolado, bem lento, pra passar dos quadris. Almas
cronópianas ficam tão felizes quando as calças estão do joelho para baixo, que
saem pelas partes, e dão de cara com calcinhas ou cuecas, e logo aprendem que
dentro é quase sempre melhor do que quase dentro (Viu como são esses panos
minúsculos e antipáticos? Prisioneiros de almas livres).
O cadarço é solto com uma única agachada. Os
dois ao mesmo tempo. Agora é só passar a ponta do pé no calcanhar direito,
depois no esquerdo, ou vice-versa. Mas as meias não podem ser tiradas ao mesmo
tempo! E nem faz diferença qual se tira primeiro. É só tirar. Almas sem pressa,
vão dançando nas vísceras, enquanto com a ponta dos dedos, os botões se desencaixam,
da esquerda para direita.
Sutiã,
para os que usam, se tira com as duas mãos, virando-as para trás, da direita
para a esquerda. É quando se dá o segundo pulsar quente das almas, um prazer
que derruba qualquer semblante de bons modos. Geralmente causa estragos no
superego. Mas libertar-se é assim mesmo, vai de encontro com o bom custume, com
a velha tia beata que mora dentro de nós, que uns chamam de consciência e outros
de boicote.
Conflito se dá mesmo, ao tirar os panos
minúsculos e antipáticos, é quando a tia beata segura a alma sedenta por
liberdade. Corra para o banheiro, tome uma ducha. De cabeça. Da cabeça aos pés.
E sinta: A água fresca descendo o couro ensolarado. Não tem tia que segure uma
alma sedenta por frescor. Ela sai naquele suspiro que se faz com os lábios.
Assoprando a água com a boca semi aberta.
A liberdade merece
ser dançada. Braços erguidos para que o molhado percorra os sovacos. A cabeça
deve ser virada lentamente: boca,
pescoço e peitos molhados, mamilos duros. Dedos frios e mamilos duros. Umbigo
fundo. Mão leve. Caricias incisivas. Toque forte e continuo. Give me a reason! São as palavras que
normalmente são proferidas com sabor, pela boca molhada de prazer. Prazer de não precisar de uma boa razão pra ser o que se é.
Kamilla, você é mesmo uma waratiana da psicologia! Beijos.
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