segunda-feira, 31 de maio de 2010

Curso Direito e Arte करसो दिरेइतो इ अर्ते


UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
CAMPUS CIDADE DE GOIÁS
CASA WARAT GOIÁS

CURSO DIREITO E ARTE


Curso ministrado por: Marta Gama, mestre e doutoranda em Direito/UnB
Dias: 15 a 20/06/2010
Carga horária: 25 horas extracurriculares
Local: Campus Cidade de Goiás/UFG
Inscrições gratuitas: Secretaria do Campus da UFG Cidade de Goiás ou pelo e-mail: eduardofdufg@yahoo.com
Mais informações: http://casawaratgoias.blogspot.com/

Programação do Curso:
15 de Junho:
8 - 10h Direito e Arte. Apresentação da proposta 2 horas
10:20- 12:20h Oficina de práticas estético poéticas 2 horas
16 de junho
8- 10 h O paradigma epistemológico moderno. 2 horas
10:20 -12:20h Oficina de práticas estético poéticas 2 horas
17 de junho
8-10h A razão sensível 2 horas
10:20 -12:20h Oficina de práticas estético poéticas 2 horas
18 de junho
8-10h O conhecimento jurídico e a sensibilidade. Ampliação dos horizontes
interpretativos. 2 horas
10:20-12:20h Oficinas de práticas estético poéticas 2 horas
20 de junho
8-10h O conhecimento jurídico e a sensibilidade 2 horas
10:20 -12:20h Oficina de práticas estético poéticas 2 horas
19-22h Mentes Livres 4 horas

domingo, 23 de maio de 2010

Fogo, barro, sangue e fé


Por Eduardo Rocha


No último sarau Mentes Livres, fizemos um ritual. Depositamos em um tacho de barro palavras de fé, sangue e temperamos tudo com fogo. Fogo, barro, sangue e fé. Essa é a essência do ritual da origem. Mistura que está presente no mito de toda a criação. O homem, já diria os hebreus, é barro, mas não apenas. É fé divina; é fogo que queima e cria; é sangue, elemento exclusivamente humano, que nos diferencia dos Deuses. Barro misturado com a fé, por meio do fogo, que gera o sangue. Junção do improvável, que situa o homem entre o possível e o impossível.
Como expõe Humberto de Campos, em o “Monstro”:



“Pelas margens sagradas do Eufrates, que fugia, então, sem espuma e sem ondas, caminhavam, na infância maravilhosa da Terra, a Dor e a Morte. Eram dois espetros longos e vagos, sem forma definida, cujos pés não deixavam traços na areia. De onde vinham, nem elas próprias sabiam. Guardavam silêncio, e marchavam sem ruído olhando as coisas recém-criadas.
(...)
Em passo triste, a Dor e a Morte caminham, olhando, sem interesse, as maravilhas da Criação. Raramente marcham lado a lado. A Dor vai sempre à frente, ora mais vagarosa, ora mais apressada; a outra, sempre no mesmo ritmo, não se adianta, nem se atrasa. Adivinhando, de longe, a marcha dos dois duendes, as coisas todas se arrepiam, tomadas de agoniado terror. As folhas, ainda mal recortadas no limo do chão, contraem-se, num susto impreciso. Os animais entreolham-se inquietos e o vento, o próprio vento, parece gemer mais alto, e correr mais veloz à aproximação lenta, mas segura, das duas inimigas da Vida.
(...)
- E se nós próprias fizéssemos, com as nossas mãos, uma criatura que fosse, na terra, o objeto carinhoso do nosso cuidado? Modelado por nós mesmas, o nosso filho seria, com certeza, diferente dos auroques, dos ursos, dos mastodontes, das aves fugitivas do céu e das grandes baleias do mar. Tra-lo-íamos, eu e tu, em nossos braços, fazendo do seu canto, ou do seu urro, a música do nosso prazer... Eu o traria sempre comigo, embalando-o, avivando-lhe o espírito, aperfeiçoando-lhe à alma, formando-lhe o coração. Quando eu me fatigasse, tomá-lo-ias, tu, então, no teu regaço... Queres?
(...)

Horas depois, possuía a Criação um bicho desconhecido. Plagiado da obra divina, o novo habitante da Terra não se parecia com os outros, sendo, embora, nas suas particularidades, uma reminiscência de todos eles. A sua juba era a do leão; os seus dentes, os do lobo; os seus olhos, os da hiena; andava sobre dois pés, como as aves, e trepava, rápido, como os bugios.
O seu aparecimento no seio da animalidade alarmou a Criação. Os uros, que jamais se haviam mostrado selvagens, urravam alto, e escarvavam o solo, à sua aproximação. As aves piavam nos ninhos, amedrontadas e os leões, as hienas, os tigres, os lobos, reconhecendo-se nele, arreganhavam os dentes ou mostravam as garras, como se a terra acabasse de ser invadida, naquele instante, por um inimigo inesperado.
Repelido pelos outros seres, marchava, assim, o Homem pela margem do rio, custodiado pela Dor e pela Morte.”



Dor e Morte, sangue e barro, estão juntas na origem do mito de toda criação, mas precisam do fogo e da fé, como elemento unificador. No último Mentes Livres vivenciamos um ritual. Entregamos nosso sangue ao barro e ao fogo, liberando a fé. Não foi uma tentativa de retirar esse ingrediente da nossa concepção. Não é possível qualquer criação sem esse toque divino. É ele que permite que do inanimado, barro, surja a pujança do sangue. Foi uma tentativa de liberar a fé, para que ela volte a nos constituir, aproximando-nos, assim, mais da vida, do sangue, do que da morte, do barro.
Não é negar a importância da Morte. A Morte, ao lado da Dor, é elemento obrigatório para a vida. Permite o eterno começo. Precisamos da Morte para nos desprendermos e voltarmos a iniciar, para mostrar que tudo possui um começo e um fim, que nada é imodificável.
A Morte, ao lado da fé, permite que a vida se recrie a cada instante. O problema é quando o barro, mal temperado pelo fogo, aprisiona a fé, gerando sangue limitado pelas barreiras da morte. Quando isso ocorre, o sangue e a fé se restringem ao horizonte sombrio da impossibilidade, do medo, da imutabilidade, do posto. Tem-se fé e sangue para viver, mas na frente só se vê o barro.
O último Mentes Livres foi o início, a afirmação de um compromisso, a tentativa de um novo começo. Começo que retira o barro do nosso horizonte. Origem que consegue equilibrar a Morte e a Dor, gerando uma combinação criativa entre barro, sangue, fogo e fé. Assumiu-se o impossível como condição de vida. Valorizou a loucura como condição de sanidade. Resgatou o sonho como atitude constitutiva. Assumiu o surrealismo como postura epistemológica. Surrealismo Jurídico? Não apenas. Afirmação do surrealismo como postura política, vivencial.
É preciso, constantemente, voltar aos quatro componentes da criação para que se possa manter a vida. Essa seria a arte do eterno começo, freqüente junção do barro com o sangue, com o fogo e com a fé. Como alerta Humberto de Campos, quando esses elementos perdem o equilíbrio, quando a Dor e a Morte chegam ao impasse indissolúvel, resta apenas um elemento: “o nada”.


“Abrindo os braços, a Dor lançou-se contra o monstro, apertando-o, violentamente, com as tenazes das mãos. A água, que o corpo continha, subiu, de repente, aos olhos do Homem, e começou a cair, gota a gota... Quando não havia mais água que espremer, a Dor se foi embora. A Morte aproximou-se, então, do monte de lama, tomou-o nos ombros, e partiu...”

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Cântico negro



Por: José Régio










"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Lá fora de Realidade é que tem graça


Por Fernanda Rezek


Eu moro em Realidade. Eu nasci em Realidade. Não é fácil de se viver em Realidade, não. Tiro férias lá fora, amiúde. Não sempre que eu quero; mas sempre que eu posso. Lá fora é terra de ninguém. Realidade é exacerbadamente sistematizada; diria que cruelmente burocrática. Tem muito preconceito em Realidade; muita maldade; julgamentos vãos; pessoas robotizadas; vazias de amor. Cantar no trânsito, em Realidade, desperta olhares hostis. Lá, as pessoas são egoístas, egocêntricas; parece terem medo umas das outras. São pontuais pra não demonstrarem o desprezo pelo tempo do outro; são polidas pra não escancararem o desrespeito pelo outro humano; são caridosas pra que ninguém perceba que o que realmente importa é sua própria fortuna. Realidade é assim; cinza. Julga-se o amor, pune-se a espontaneidade, e fingir a vida é muito mais importante que viver. Sair de Realidade causa uma sensação de bem estar inexplicável. Parece que o ar volta aos pulmões. Lá fora você escolhe as cores. Seus músculos não sentem dor no fim do dia. Você sorri de verdade. Chora. Lá, não se reprime a alma. As auras brilham com mais força, e o vento sopra com mais leveza. Lá fora é sempre surpreendente; não tem relógio lá, nem trânsito do meio dia, não tem arma de fogo, violência nenhuma. Eu moro em Realidade. Eu nasci em Realidade. Mas minha casa mesmo, é lá fora. E lá fora ... é bem aqui dentro de mim.

Programação primeiro semestre

domingo, 9 de maio de 2010

Para os mentes-livres


Por: Rafael Ribeiro Rubro


Sarau saralma.

Faz sentir o sentido arrefecido.

Sente-se o insentido.

Podemos sentir o corpo,

Que, durante a semana de máquina,

Não temos...

Não percebemos.. .

Como não se percebem seus corpos os robôs operários...



Cheira-se o toque melódico da mão,

Que canta...

Cadências descem das estrelas desse tipo,

Que nos brindam com luz:

Sabor de cachoeirinha pequena...

Colibris que não vejo,

Vejo sua canção inexistente. ..

Mas tangentíssima ao endocárdio...



Homens e mulheres quanto aos seus sexos, não:

O ser humano se sente.

Ou melhor:

Homens e mulheres, sim,

Enquanto humanos que são,

Havendo respeitadas as riquezas,

Que costumam nomear: diferenças.



Sentiram-me os olores...

E mentes-livres disseram-me que tenho cheiros...

... mármore

Orvalho

Paz

Folha

Roupa no varal que, após secada pelo sol, a gente vai lá, abraça e cheira

Poesia

Carvalho

Água de regato...



Senti-lhes os olores...

E disse-lhes que tinham cheiros...

...gelatina de framboesa

Bala de cereja

Telha de telhado molhada e musgo encharcado

Picolé de groselha

Palha

Lençol limpo que se colocará na cama, quando do momento da muda

Pétala

Toalha macia, fofa e felpuda, após lavada e seca...



I

Já sentiste estes aromas?



II

Perfumar a vida é o abraço com que a agarramos.



III

(Sair mais cedo do forno é não estar pronto

Para ser biscoito).



IV

Ser nu e cru

É ser horta sadia da roça,

Em que a gente mesmo planta as verduras...



V

Libertar...

Sei lá...

Mas eu amo os passarinhos. ..





Villa Bôa de Goyaz, XI-IV-MMX (3:27 da madrugada)

sábado, 8 de maio de 2010


Abaixo segue o link para o texto "Justiça, sentimentos e direitos humanos" publicado por mim, Eduardo Rocha, e por Márcia De Fazio na revista Captura Críptica.

http://www.ccj.ufsc.br/capturacriptica/documents/n2v1/parciais/19.pdf

Breve trecho do texto:

"Se a razão não é essa capacidade intrínseca a todos os homens o que ela seria? Rorty explica que se trata da capacidade de cada indivíduo concatenar coerentemente o seu próprio conjunto de crenças, sendo racional, plausível ou óbvio o que cada ser consegue assim enxergar. (RORTY, 1997, p. 246)

Surge então a necessidade de uma resposta que possa abarcar a complexidade humana: ser que pensa, sofre, tem emoções e sentimentos. O que se compartilha entre iguais – e Kant chamou de obrigação moral – não é uma imposição do espírito, natureza humana ou racionalidade, mas sim a “(...) a capacidade de sentir compaixão em relação à dor de outros”. (RORTY, 2005, p. 211; 2005b, p. 43 e ss.)

Os pragmatistas desconstruíram a universalidade da razão, porém,mesmo assim, almejam uma sociedade em que todos tenham capacidade de se desenvolver e respeitarem-se mutuamente 19 . Ao desconstruírem a razão, valorizaram a capacidade humana de sentir dor, assim, valer-se-ão dos sentimentos na construção do seu projeto político. (RORTY, 2005, p. 207)

O condicionamento sentimental, a educação sentimental torna-se muito mais importante para o desenvolvimento de uma cultura humanista do que a busca pelo conhecimento. É na sensibilização, na possibilidade de se ampliar “quem somos nós”, “nosso tipo de gente”, “gente como nós”, que está a aposta pragmática.

Sensibilizar para ampliar direitos, essa é a aposta pragmática. A dor e o sofrimento como instrumentos contra as brutalidades humanas e em favor da ampliação da lealdade entres os grupos."

sábado, 1 de maio de 2010

Livro de Cabeceira



Por Marta Gama
Imagem: Matadeiro/Florianópolis


Aspiro tão fortemente à liberdade, ainda que não possa vivê-la radicalmente.
receio tudo aquilo que mesmo aparentemente tenha um feição de definitivo.
O definitivo cheira à morte...
Detesto tudo o que me amarra, o que me prende, o que me territorializa, o que me nega a possibilidade do novo, de viver outras vidas, de ser outras pessoas.
Gosto do mambembe, do precário, do nômade, do sempre poder a ser. De esperar algo que nunca vem. Da esperança, do sonho, da ilusão.
Elas preenchem assim meu dia, que floresce sempre com uma proposta nova, onde tudo poderei ser!.
A serenidade, a tranquilidade, a certeza me indagam sobre a permanência. E assim permanecendo me negaria tantas vidas.
É como se o definitivo já cheirasse à morte, e dela quizese escapar.
Me retirando sempre
continuo perseguindo
ser tantas
quantas
nenhuma