quarta-feira, 28 de abril de 2010

Dóceis felinos


Por Mayara Brito

É próprio da memória proporcionar-nos momentos nostálgicos...
Isso se dá por meio de sensores...que ligam o mundo físico à alma...
Um perfume... frases organizadas, ou mesmo as desorganizadas...imagens...enfim...
Um terceiro elemento... que nos tira do automatismo rotineiro... e recria o passado dentro de nós...
Noites não muito distantes, algo parecido me aconteceu... meus felinos de estimação voltaram... e com data especifica! Um aniversário mórbido...chuvoso, com poucos convidados...uma mãe, um irmão e um gato...

Ah! Infância... tão ingênua e feliz...
O gato de Edgar é sinônimo de ira, tristeza e morte... Faz-nos repensar a
Condição humana e ver como estamos vulneráveis ao inesperado, e
Como a natureza responde, às agressões que fazemos a ela, de forma natural e extraordinária...
Paradoxalmente meus dóceis felinos invadiram minha memória...e
Deram ênfase de como expressamos nossos sentimentos espontânea e sincera quando criança...E como nos apegamos a eles tão facilmente...
De forma brusca, como uma ruptura do infortúnio são tirados de nós...
O primeiro contato com a perda...um passo para ser gente grande... e começar a viver em um mundo preto e branco...

Gatos e cães que pintam e bordam a tenra idade...Os quero de volta... por favor...devolvam-os...pois ainda fazem parte de mim...

domingo, 25 de abril de 2010

Refexões em torno de um tempo chuvoso


Por Eduardo Rocha

Eu gosto deste clima chuvoso. Faz-me lembrar o passado: sentimento nostálgico, intangível, pois me remete ao tempo não mais presente sem fazer referência a nenhum fato específico.

Eu gosto dessa estação chuvosa. Talvez seja a água, o clima, os relâmpagos, o som! Remete à nostalgia de outras estações chuvosas, em uma remissão sem fim, em uma saudade sem objeto, em uma tristeza sem motivos.

Talvez seja a água, elemento que sempre lava e leva, apaga, o que permite voltar. Voltar lavado, reconciliado, ter saudade sem sofrer, sofrer sem lembrar.

Saudades de quê? De uma nostalgia intangível sem objeto e objetivo, sem fim.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Seja sensível


Por Lélio Prudente

Molhe-se na chuva

Sinta os pingos gelados em teu corpo quente

Dê uma cambalhota no chão

Sinta como aquele piso duro se transforma em um sorriso macio

Ria

Chore

Gargalhe

Pule

Grite

Revolte-se

Ouse

Ame

Faça aquilo que lhe pareça loucura

Enfrente o inesperado

Faça parte da Casa Warat

Comece a viver!

domingo, 18 de abril de 2010

Instruções para vivenciar a solidão


Por Fernanda Rezek

Importante pra entender como a solidão pode ser, muitas vezes, confortável. Largue o seu corpo em algum lugar. Largue mesmo, frouxo, solto, preguiçoso. Aterrise todos os seus sentidos; e jogue um foco de luz nas dores da sua tristeza. Deixa o pensamento se transformar numa chuva sem sentido. Assuma o suspense. Nem tão fundo assim, você vai encontrar todos os seus fantasmas; sinta o medo, mas afronte-o; quase todo confronto é enriquecedor. Alimente o seu caos, desorganize-se a ponto de não mais se reconhecer. Pinte, bem na frente dos seus olhos, uma paisagem acolhedora. Entre nela. Tome vinho tinto seco. Viva a textura encorpada, o aperto glandular, o gosto de madeira, o cheiro de antigo. Permita que a nostalgia te afogue. A solidão sempre vem com ela. Remeta-se à consciência da infância, quando ninguém achava que você tinha consciência. Tome mais vinho. Boa música pode ajudar muito. Apegue-se às memórias mais sísmicas; aquelas tão íntimas, que ninguém poderia imaginar. Visualize, como num filme, todas as coisas que são só suas: sua cor favorita, seu grande segredo, o defeito que você adoraria não ter, as noites insones, o choro na chuva, o amor que você não declarou, a calcinha cor da pele. Você vai sentir seus pulmões, um aperto nas têmporas e a umidade nos olhos. Chore intensamente. Deixa os músculos contraírem até não se suportarem mais, e se libertarem com força, como numa catarse.

Estranha ocupação: dançando o não dançável


Por Fernanda Rezek


Tem um lugar nos meus sonhos, dormindo ou acordada; eu acho que é entre Brasília e Goiás. Eu passo lá umas duas vezes por semana. Namoro os ipês coloridos, a languidez do lago pequeno, e o vento forte, que derrama sobre tudo, um arco-íris das pétalas desses ipês. É perfeito pra essa prática. A de dançar embaixo das árvores com a música que ocupar a sua cabeça. Você pode escolher a canção. Os cronópios deixam que ela apareça. Fazem quinze segundos de silêncio, ouvem o barulho do vento, o lago calado, e tanananananan (Stand by Me); a música começa. É inexorável. O corpo começa a se mexer, os braços correm pro alto da cabeça, o quadril pra lá e pra cá, os olhos se cerram, e os lábios não resistem à plenitude; sorriem. A melhor providência é se jogar. Quando se sente a brisa esfriar os poros, os braços soltos no ar, e o movimento inevitável do corpo inteiro; a mente se expande; e o volume da sua música vai aumentando inebriantemente. Você pode fazer isso sozinho, acompanhado, pode fazer com alguém que você gostaria tanto que estivesse lá, que acaba, dentro da sua alma, estando. SINTA O RITMO DA SUA MÚSICA. Não siga. Dobra os joelhos e desce até o chão (tipo Cora Coradinha, ou não), faça passos de bailarina, seja uma, balança a cabeça com força até sentir cada fio de cabelo. Estale os dedos. Cronópios, famas e esperanças, a experiência é indelével, e, como Cortázar adoraria que fosse; surreal.

O primeiro Mentes Livres: Histórias de Cronópios e Famas


Por Eduardo Rocha

Fico imaginando, quais estranhos pensamentos devem passar pela cabeça de uma pessoa que é chamada para participar de um Sarau Surrealista?! Faz-se o convite: “você está convidado a romper com a disciplina e com o hábito. Terá que explorar seus dragões interiores e construir, por algumas horas, suas próprias ilusões não tóxicas”. E aí?! A pergunta fica no ar, seja para quem convidou, como para quem foi convidado. Um pouco de ansiedade e medo, para todos, eu imagino.

Dia 10 de abril, ocorreu na Cidade de Goiás o primeiro Sarau Surrealista denominado Mentes Livres. Em palavras mais familiares para os Waratianos que acompanham o blog, a proposta era carnavalizar a secular Cidade de Goiás com o bom e gostoso Cabaré Macunaíma. O evento faz parte da construção e estruturação do movimento desterritorializado e rizomático chamado Casa Warat. No segundo semestre do ano passado, diversas pessoas de muitos estados brasileiros e da Argentina chegaram à conclusão de que era fundamental que as idéias da Casa Warat espalhassem de forma rizomática e constituíssem um grande movimento desterritorializado. Nesse sentido, foi fundada por um grupo de estudantes e professores da Universidade Federal de Goiás uma Casa Warat na Cidade de Goiás.

Dia 10, completando um mês de atividades, foi realizado o primeiro Sarau Mentes Livres. O tema era “Histórias de Cronópios e Famas”. Foi um momento em que os participantes da Casa Warat puderam vivenciar o famoso livro de Cortazar. Também serviram como referência os filmes vistos ao longo do mês e as leituras realizadas no grupo de estudos. O próximo sarau terá como tema “Histórias Extraordinária”, de Edgar Allan Poe, devendo ocorrer daqui a aproximadamente um mês. Os membros de todas as demais Casas Warat estão, desde já, convocados!

ÓRFÃOS DE SÍSIFO (é com um s só mesmo!)


Por Fernanda Rezek

Éramos cinco (ainda somos; ninguém morreu). Todos os dias e noites, durante cinco anos, bebíamos um vinho indecente de barato (pior que a vodka com suco e halls, de Goiás), e doce (o vinho!!!). Passávamos horas dentro da faculdade, ou em cada buteco perto dela, ou nas casas uns dos outros; falando. Um dos cinco é ateu; outro, saiu do seminário, foi estudar Direito, mas continuou sendo assistente dos padres que celebravam as missas na São Paulo Apóstolo; o terceiro acreditava que era a reincarnação do Jim Morrinsom (acreditava mesmo; com fé!). Nós; duas meninas não muito adequadas ao que seria o perfil da aluna da Universidade Católica de Goiás entre 94 e 98, parecidas uma com a outra...e completamente diferentes. E iam-se embora; as madrugadas; o vinho horroroso; a filosofia barata; as nossas convicções sólidas aos 16, 17 anos; a certeza de que o mundo seria diferente depois de nós...um exerciciozinho de vaidade e de auto afirmação dos cinco meninos que, hoje (esse é o momento em que eu deixo de me incluir, por motivos óbvios), são três homens e uma mulher enormes, que bateram as cabeças umas nas outras, leram da Náusea à Bíblia, viajaaaaaaaram pelas várias noites de riso, choro, gozo, dor, e tudo mais a que qualquer ser humano está suscetível. Mudaram sim, o mundo. Os Órfãos de Sísifo. Chamavam a gente assim, na faculdade.

Sísifo, na mitologia grega, não era Deus. Aliás, muito pelo contrário; era subversivo contra todos os Deuses, e contra toda ordem. Despertou a ira de Zeus, ao enganar a morte por duas vezes, e, por isso, foi condenado, pela eternidade, a rolar uma pedra enorme e pesadíssima, de mármore, com as mãos, até o cume de uma montanha. Toda vez que ele quase alcançava o topo, a pedra rolava montanha abaixo, e Sísifo tinha que começar tudo de novo. Essa história costuma ser contada pra ilustrar a prática de trabalhos inúteis. Ledo engano; imaginem que, ao rolar a pedra imensa, tantas e tantas vezes por dia, por muitos anos, Sísifo se exercitava e se fortalecia fisicamente e mentalmente. Um dia, com certeza, conseguiu levar a pedra ao topo.

Estranha ocupação! Menos fisicamente agradável que apertar as minhoquinhas, mas, com certeza, estranha.

Até sábado, galera.

Fernanda Rezek

A primeira vez


Por Tuanny Stival


Expectativa. .
tum-tum
Deixar-me para trás
tum-tum
Deixar-me...
tum-tum
Era o coração do outro
tum-tum
Era o meu respondendo
cantando junto, tum
E as mãos voaram, colibri e beija-flor
Amei, toquei, senti...
Mágica mágica: cheguei em casa!
Mágica! Brinquei no jardim, florido de lírios e jasmins, da vovó.
Mágica e... Tchibum!
Mergulhei?!
Mergulhamo-nos. ..
É possível sentir cheiro de tchibum?
Possibilidade. .. que limitação fama!
Dancei-me,
Dancei-me livre!
Descobri que amo ipês coloridos...
Abracei um travesseiro e fui para uma tarde de filmes,
lá havia um passarinho, que também cheirava liberdade...
e também tinha pai
e chalé com assoalho de madeira e lareira
e tinha roupa limpa de varal, com cheiro de sol e mel
Inspirava poesia
Abri o olhos
Expirava poesia
O mundo ficou tão pequeno...
Transcendentalizei-me
Minhas mãos ainda voam
E tenho medo que algum dia meus pés voltem a tocar o chão...

Impressões...


Por Fernanda Rezek

...como um vento leve, que passa com cadência, quase com carinho, arranha um pouco a pele, acalenta o coração, e tira tudo do lugar.

...como o sol nascente, que queima com cuidado, arde só um pouquinho, mas cria confusão.

...como a chuva fina, que zela suas vítimas, protege seus segredos, escondendo o choro baixo.

...como o próprio amor, que trai todos os sentidos, engana as impressões, adula a felicidade, e condena a alma ao seu suplício.

...a música mais linda que eu já dancei; o vinho mais inbriante que eu já bebi; anjos doces me beijaram, me abraçaram de corpo inteiro; o pax de deux que vai se propagar pelo infinito.

Primeira impressão


Por Nádia Pinheiro

Um sábado comum que de comum só tinha o nome. Um bar inspirador onde transpiravam emoções. As mais belas pessoas, que ALI se fizeram fundamentais umas pras outras.

Os sentimentos dançando LIVREMENTE por entre todos nós, que de tão envolvidos só sentíamos o barulho da água, os abraços mais quentes e profundos que vinham de todos os lados, os cheiros dos mais variados que não eram fabricados e que, talvez por isso, adentravam as narinas e conseguiam tocar o coração...
Ah, o coração! Esse sim gostou de tudo o que aconteceu ali. Ele era livre e se aquecia com o calor do outro que, sem receio algum, se achegava e se deixava voar, e cantar, e sorrir.

E depois dessa inundação de sensações, ele me disse que nunca mais seria o mesmo!

“estranhos hábitos”



Por Marta Gama




Já faz muito tempo, não faz tanto tempo assim...

Lembro-me que tinha um estranho hábito de discutir com terceiros a vida de outros que nunca tinham visto...

Nessa época, todo um ritual precedia esses encontros, costumava vestir elegantes tailleurs, tinha-os de todas as cores, sempre usava altos tallones, cabelos cuidadosamente penteados e uma maquiagem opaca para disfarçar a minha então pouca idade.

Num desses dias fui encontrar com um daqueles sujeitos que apesar da sua pouca idade, já tinha aquele ar de que já sabia de tudo e se embrenhava na esquisita tarefa de decidir a vida alheia. Hoje penso que essas pessoas talvez tenham um pouco daquelas doces senhoras das novelas de Dias Gomes, sempre atentas à vida alheia, puro feitiche ou puro fuxico?

Voltando ao jovem audacioso com que naquela tarde me encontrara, chamava-me atenção a coleção de livros que se encontrava na estante de seu sério gabinete. De tanto olhar e ele já numa espécie de galanteio (muito próprio dos que exercem esse ofício), tomou um dos volumes e começou a declamar uma poesia. Agora já não me recordo o título, nem a autora, mas falava sobre a capacidade de sermos tantos, sendo apenas um só...

Nunca esqueci aquela cena e como na minha trajetória sempre errantes busquei ser tantas, sempre encantada com a vida e suas múltiplas faces. É como se o mundo a cada momento me convidasse a uma nova vida.
Hoje, contudo, não sei se buscando ser tantas, talvez não seja nenhuma

Estranha ocupação


Por Eduardo Rocha


Todas as quintas à noite eu e meus dois melhores amigos nos reunimos. Chamamos apenas um convidado! Não mais que um por vez, apesar da enorme fila de solicitações. Todos desejam ir. Recebemos cantadas das damas, os mais diversos convites dos rapazes. Às vezes, eles e elas chegam a ser agressivos. No entanto, a regra é clara: apenas é permitido um convidado por vez!
Reunido o time de quatro, definimos um nome para a equipe. Após longa discussão e muitas sugestões, acaba sempre sendo o mesmo: “quarteto de quatro”.
Procuramos, então, o melhor lugar. Nas cidades é muito difícil. Nas fazendas...um pouco mais fácil. Tem que ter a localização perfeita. Combinação inigualavelmente harmônica entre a lua, as árvores e o solo. Não é fácil! Algumas vezes voltamos para casa decepcionados, mas conformados por não encontrá-la.
Encontrado o local, sentamos no chão e cavamos. Caçamos, então, minhocas! É indescritível a sensação de ter o anelídeo redondinho e macio entre os dedos. Deve-se apertá-lo calma e levemente, assim, intensifica-se o prazer e não se corre o risco de explodi-lo!

Apresentação

Um Blog! Espaço de expressão. Comunicação! Temos algo para dizer e queremos ser ouvidos! Este é um espaço livre para a expressão e publicização dos pensamentos, atitudes e sentimentos de todos membros da Casa Warat Cidade de Goiás, amigos e simpatizantes.

Como toda viagem, é incerta; como toda experiência deve ser aberta à passagem...